quarta-feira, 4 de julho de 2007

Primeira Pessoa

Navego por esses mares virtuais. Na lua cheia, no quadrado minguante, no quarto crescente vejo as marés refletidas nos rostos vincados açoitados pela solidão. No outro lado da tela, pessoas que vivem em frações. Meia dúzia de ovos, um quarto de bolo, dois tomates a serem dispostos no canto de uma mesa da família de uma só pessoa. Gente que cerceia o próprio eu em companhia de vultos cibernéticos. Todos deslocados de si mesmos. Ímpares. Que vivem a vida no singular e na primeira pessoa. O som da televisão quebra a monotonia do tec tec do teclado, notas únicas de um ambiente amorfo. Tem si, sem sol. Muito dó, alguns em ré. Outros em lá. Mas falta o fá, de fazer acontecer. Uma casa farta de pessoas pianinhas, envoltas em uma sinfonia particular. Sem melodia. Desafinam da alma. Evocam sons guturais. Sangram e singram para aportar em outro cais. Lançar âncora em algum porto seguro, com o foco de vencer a calmaria de dias híbridos. Transeuntes do ciberespaço que buscam um destino a quatro mãos, um link real, casa cheia de vozes vívidas. Um downloand para o amor. (Andréia Rabaiolli)

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse texto.
Bjo...

Marcio Souza disse...

Pita, não preciso nem dizer que em doideira virtual tu és a mestre. Caraca, este texto é psicodélico; uma bofetada na mente para acordar e pensar; um desaforo à linguagem que não alcança os devaneios de um ser, como dizíamos, perdido, abandonado, largado, por Deus. Bueno, não me lembro, mas de todos os perdidos, o ser que mais se acha com as letras é você. Parabéns!!!!