Nasci um bebê rosado na meteórica Putinga. Virei ficção por conta do meu humor e bipolaridade. Sofri bullying pela origem da minha cidade e também pelo sobrenome. Na escola Érico Veríssimo, onde hoje o combate ao bullying é o mais intenso de Lajeado, me angustiei pela primeira vez: ela é de Putinga, então é a é putinha. E o pessoal ria sem dó. Criança é o ser mais inclemente que existe. E quanto mais a gente quer deixar passar esse momento, mais se o realça.
Minha angústia maior era em início de ano, quando tínhamos de nos apresentar. "Sou Andreia Rabaiolli". Tudo na cabeça de criança é alvo de troça. Rabo Mole. E lá iam-se os risos e o meu - amarelado - era lembrado em casa com lágrimas e raiva. Porco can, porque eu tenho de ter esse sobrenome italiano e porque minha mãe não correu para eu nascer em Lajeado?
Ó coitada, estranha no ninho de uma grande cidade - cá pensava eu com meus botões. Com o tempo fui me acostumado com o fato de ser de Putinga. Afinal, lá nasceu o Renato Zanella e caiu o meteorito. E também a Nona Pina e a Cinara, mais macho do que todos os campões de MMA juntos. Vítor Belfort tremeria de medo diante de Cinara, macha, mas cheia de peito e com filha grande.
Putinga é a cidade dos fenômenos. O meteorito desceu num dia de São Roque bem quando o padre discursava sobre o fim apocalíptico dos tempos. Veio aquele estouro dos céus, tibrummmmmmm e caiu aquele bloco gigantesco de pedra rolante. As pessoas se esconderam, mas depois, subversiva como só Putinga pode ser, os mais malandros trataram de captar alguns pedaços da pedra e guardar como tesouro. Foi assim que aquelas toneladas foram se espatifando uma a uma, dizimando-se nas casas putinguenses e daqueles que se diziam cientistas. Em nome da ciência, muita gente anda guardando cascalhos meteóricos. Apenas alguns poucos estão guardados para fazer jus ao Livro dos Recordes e no museu da Nasa.
Mais de 70 anos do fato e Putinga ainda se orgulha de ser a Cidade do Meteorito. Uma faixa bem grande lembra do fato: "Bem vindo a cidade do Meteorito".
Luan Santana ainda nao esteve lá, mas se fosse, seria um up na sua carreira. Putinga: meteoro da paixão. Saí de Putinga aos três anos de idade, mas não me livrei do jeito e do comportamento citatino. "Tu saiu de Putinga, mas Putinga não saiu de ti", diz meu chefe que rege minhas pautas, me dia e minha irritação.
Putinga, cidade subversiva, só perde em transgressão para Anta Gorda, município dos cachaceiros e daqueles que a todo custo tentam se livrar dos impostos federais. Bem feito para o Brasil que comprime o cidadão com tantos tributos. Há um nível de sinceridade em Putinga e Anta Gorda nunca visto antes em cidadãos brasileiros. São tão sinceros que chegam a comover. São tão sinceros que chegam a dizer que so roubariam pouco se tivesse no poder. Gente, isso é bom. Ninguém no poder rouba pouco. Só os putinguenses que corromperiam o mínimo possível, inclusive eu.
Pergunta-se a um cidadão de la: o que você acha de Putinga? Putinga é igual casco de cavalo, só cresce para baixo". Ah mas se é para colocar no jornal e se o prefeito está pagando, então bota coisa boa aí.
Putinga jamais viu o apocalipse com o meteorito, mas se valeu dele para se transformar em fenômeno. E quando Nona Pina era viva, foi personagem de muitas entrevistas. Agora, a cidade evadiu-se, os novos procuraram outros caminhos e os mais velhos revivem o passado. Quanto ao meteorito, um pedaço dele está guardado no cofre da prefeitura. E que alguém se atreva a roubá-lo, dio Madonna. Os putingueses, criados a polenta e a vinho, dão uma sova de laço. A Cinara principalmente, porca pipa.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Bombeiro que ganha R$ 1,5 mil/mês salva menina afogada
Em sete minutos, profissionais interceptam ambulância com criança em parada respiratória. Agilidade deu sobrevida até o hospital
Lajeado - Um bombeiro que recebe menos de três salários mínimos por mês conseguiu, ontem, obter uma das maiores gratificações de sua vida: salvar a vida de uma criança de 3 anos.
Com 45 anos de idade e duas décadas de profissão, Claudimir Santos dos Santos virou herói do dia da família Bairros. Seu senso de espírito salvou Cassiane Bairros da morte. A menina, com três anos, foi socorrida em plena rua.
Ontem de manhã, Cassiane caiu na piscina da casa de sua tia, em Arroio do Meio. “Foi num piscar de olhos”, disse a tia Nelci Bairros. A família, assustada, chamou a ambulância do município e, ao mesmo tempo, o Corpo de Bombeiros de Lajeado. A ambulância chegou antes e socorreu a menina. Quando acionado, o caminhão dos bombeiros fez o trajeto em sete minutos de Lajeado a Arroio do Meio. O veículo conseguiu parar a ambulância que carregava a menina ao hospital. Claudimir entrou em ação: deitou a menina sobre seus braços, verificou os sinais vitais e descobriu que a respiração estava parada. Com o boca-a-boca, Claudimir soprou ar para Cassiane. Foi esse procedimento que a fez sobreviver.
Cassiane regurgitou líquido e vomitou. Claudimir não parou. “No momento em que comecei a ventilar, ela soltou um chorinho. Fiquei aliviado.” O procedimento demorou cinco minutos.
A batalha ainda não estava ganha. A equipe dos bombeiros carregou a menina no veículo militar até o hospital. Só que durante o trajeto, ela teve outra parada. Em criança, os cuidados são redobrados, porque sentem mais dificuldade do que os adultos de voltar a respirar. Ela sofreu uma segunda parada porque suas vias estavam obstruídas e ela, desacordada. Claudimir a salvou novamente.
Cassiane foi encaminhada para a UTI do Hospital de Estrela. Ontem à tarde, a tia Nelci informou que ela estava fora de perigo. “Ela vai passar por um exame para ver se entrou água no pulmão.” Segundo Nelci, os pais Ivete e Jani Bairros estão agradecidos com a ação rápida dos bombeiros. A menina deve ir para casa ainda esta semana.
Trabalho em equipe
Claudimir mora em Rio Pardo, tem três filhos e 21 anos de profissão. Ontem, a cada meia hora, tentava obter informações da criança. Ainda não havia tido oportunidade de falar com os pais, pois a ação foi rápida e emergencial. Frisa que a salvação foi trabalho de equipe.
Tudo começou com a ligação recebida pelo sargento Jorge de Souza, às 9h32min. Às 9h33min, o caminhão se deslocava para Arroio do Meio com Claudimir, o motorista Eloir Pasch, que fez o veículo “voar”, e os soldados Laércio Beuren, Alan Rieth e Roger Luis Koelzer. Às 9h40min, chegaram ao local. Tanta rapidez foi necessária para salvar a criança. “Existe uma lei que diz que temos de respeitar os limites do trânsito. Mas primeiro temos de salvar a vida. Depois eu respondo pela velocidade”, disse Pasch.
Os bombeiros estão entre os profissionais mais confiáveis do Brasil. Seguem na liderança pelo terceiro ano consecutivo, segundo pesquisa do Ibope. A ação rápida da equipe de Lajeado reforça a credibilidade da pesquisa. No estudo, a instituição militar está à frente até das igrejas, só perde para a “família” e os “amigos”, que estão no topo dos mais confiáveis.
Vida de Facebook
Eu gosto tanto do que disse Nelson Rodrigues que acho ele tão lúcido quanto Schopenhauer. Ah mas ele me inebria e nao me faz ficar na zona de conforto. Quando acho que estou errada lutando contra o jornalismo morno, leio Rodrigues e fico como uma noiva em chamas. Oxalá, reviva Rodrigues na pele de Millôr ou de Scliar, mas todos morreram e agora Brasil?Quem será o morto rotativo na Academia Brasileira de Letras???
“AO CRETINO FUNDAMENTAL,NEM ÁGUA”
"Na vida,o importante é fracassar"
O amigo que é o nosso maior torcedor não é o maior coisa nenhuma, porque, ele próprio, não consegue se prender. Então,começa a fazer insinuações e etc…Como eu sinto, evidentemente, o nosso amigo, o inimigo, com a maior facilidade, então eu prefiro o inimigo”
Nelson Rodrigues eu te amo, Millor eu te amo, Chico Anisio, nem tanto!!
***Madre de Dios, eu chego em casa e vou ver meu querido Ferrero. Vejo ele enrolado num TERÇO..pergunto a Marianna o que houve: ela comeu e so deixou um pedacinho e disse que páscoa e Jesus tem tudo a ver com terço..Cristo!!!!
“AO CRETINO FUNDAMENTAL,NEM ÁGUA”
"Na vida,o importante é fracassar"
O amigo que é o nosso maior torcedor não é o maior coisa nenhuma, porque, ele próprio, não consegue se prender. Então,começa a fazer insinuações e etc…Como eu sinto, evidentemente, o nosso amigo, o inimigo, com a maior facilidade, então eu prefiro o inimigo”
Nelson Rodrigues eu te amo, Millor eu te amo, Chico Anisio, nem tanto!!
***Madre de Dios, eu chego em casa e vou ver meu querido Ferrero. Vejo ele enrolado num TERÇO..pergunto a Marianna o que houve: ela comeu e so deixou um pedacinho e disse que páscoa e Jesus tem tudo a ver com terço..Cristo!!!!
segunda-feira, 26 de março de 2012
A nau da gordinha desesperada!
Nunca me expus tanto em uma coluna pública, a não ser em meu blog, que tem menos abrangência do que Pitônicas. É uma “jogada” arriscada, mas de puro desespero. Agora são 8 horas da noite desta terça-feira. Estou chorando: 80% daqueles que lerem a crônica terão vontade de me esganar por achar meu terror de uma futilidade sem tamanho. Vinte por cento poderão me compreender. Titubeio em me expor tanto, mas escrever é se expor e talvez este seja meu divã - não clínico - mas público em que despejo minhas verdades com toques humorados que é para cair redondo na mente do meu camarada leitor. Descobri hoje que engordei seis quilos. Não sei quanto a balança apontou no total, virei os olhos. Ao ir ao médico, fiquei de costas para o ponteiro digital. O médico tomou o cuidado de não revelar o peso pois sabe que pode deflagrar minha latente depressão. Me fez fazer exame de sangue e no final me disse: “seis quilos”.
Foi um número acachapante. Uma verdade que você não quer ouvir. Subitamente, fiquei consciente de toda minha gordura. Eu senti uma bola de pilates na minha barriga. Eu sei que em vezes anteriores, quando escrevo isso, o sorriso e a ironia despontam como cruciais no texto. Mas agora não. O drama é inerente a mim. Minha teatralidade também. Normalmente lido na boa, escondendo minhas melancolias nas minhas próprias mise en scene. Todos somos em algum momento atores no palco da vida. Há uma trupe colada em nós, na nossa personalidade. Leio Arthur Schopenhauer para me conservar lúcida, mas humana, demasiada bípede, submerjo nas minhas futilidades: dar valor ao ponteiro da balança é a maior delas.
Eu sei que ninguém gosta de estar fora do peso. É normal. Anormal é sentir-me como eu. Há uma ojeriza, uma compulsão em sair de mim, me livrar desse corpo que me deixa esturricada no manequim 44. Deus, como vocês estão com nojo de mim. Tanta coisa para falar neste espaço: do aumento do número de vereadores, de animais abandonados, de crianças órfãs que precisam de ajuda. De mães desesperadas que perderam filhos em tragédias. De famílias que perderam tudo com incêndio. Dezenas de pessoas que fazem hemodiálise no Hospital Bruno Born e estão há anos na fila do transplante. Eu sei. Eu já fui na casa de todos eles, já lagrimei com cada uma dessas situações.
Mas por favor, eu peço que me deixem ser egoísta e falar hoje aqui de uma tristeza que eu não carregava há muito tempo. Escrever é se expor. E para mim é uma forma de desabafo. Eu preciso escrever para talvez, tomar uma atitude comigo mesma. Eu sou minha algoz. Dirão vocês: “fecha a boca, sua cretina, não exponha em praça pública o que você pode fazer na cozinha de sua casa.” A questão é essa: eu não quero emagrecer magicamente. Quer me controlar. Quanto mais persigo meu autocontrole, mais a autofagia me demora.
Um psicólogo americano,Roy Baumeister, atesta que o autocontrole é mais importante que a autoestima. Defende que o sucesso depende mais da capacidade da pessoa controlar seus impulsos, de adiar o prazer imediato em nome de um objetivo maior no longo prazo. Ele lançou livro chamado Willpower (Força de Vontade) , creio que ainda não está disponível no Brasil, mas em breve estará. Li entrevistas concedidas em revistas. Baumeister diz que a autoestima é mais uma consequência do que uma causa. O autocontrole ajuda as pessoas a serem mais bem sucedidas do que a autoestima. E segundo ele, a força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. “É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”
Entre a teoria e a prática, há muitos chocolates, sorvetes e batatas fritas bloqueando essa percepção científica. Há muito mais tentações no mundo moderno. É possível gastar, online, ir no shopping e consumir R$ 200 reais em orgia gastronômica, apenas porque você está irritado com seu chefe.. Temos uma quantidade razoável de força de vontade, mas se não a usarmos corretamente e de maneira efetiva, podemos nos tornar mais vulneráveis aos perigos.- A vida corre e, a todo momento, precisamos usar nossa força de vontade para mudá-la. Então, nobre cientista, como comer menos sem precisar de uma camisas de força? Ele recomenda, no caso da obesidade, se alimentar com saúde sem ganhar peso. Diz que a melhor forma para mudar um hábito é a repetição.
E se eu não conseguir comer a cenoura com regularidade? Se não conseguir acatar o compromisso comigo mesma?Um mês trancada num quarto austero, com água, verdura e atada ao pé da cama me dariam a fama de Ulisses, de a Odisseia. Ele se atou no mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias. Não confio em meu autocontrole, preciso de uma camisa de força. O doce canto do chocolate torna meu braço grosso como uma coxa. A nau de Ulisses chegou gloriosa a seu destino. A minha - nau de uma gordinha só – ruge desesperada presa a um manequim 44.
PS: hj, ao postar a crônica no O Informativo, recebi muitas mensagens de estímulo, inclusive de gente que sentiu o desespero do Indice de Massa Corporal e que me motivou a ir adiante. Grata, gente!
A educação das calçadas opostas
A educação da calçada ou a Calçada da Educação. A prefeitura inaugura um prédio histórico que revela provocações inusitadas. Todas positivas
Lajeado - Uma rua histórica marca a memória de gente que virou autoridade e revela o contrafluxo pitoresco existente na cidade. É a democracia da diversidade que convive lado a lado, cada qual seguindo seu curso. Um na calçada da instrução, outro na da sedução.
Ontem , com a inauguração do Prédio Histórico da Secretaria da Educação, o aspecto comportamental de Lajeado ficou evidente na Rua da Borges de Medeiros, uma via que armazena nas fendas dos paralelepípedos tantas vivências quanto calçados, sapatos ou desejos.
Um é o desejo da educação – que num prédio rebuscado com colunas em alto relevo e capitéis – garante a preservação da cultura e o aprendizado dos sete mil alunos que já estão aí e outros milhares que virão. O número 370 fica sendo agora o endereço do cabedal da instrução. Antigo e revigorado por fora, mantendo o patrimônio. Novo e revigorado por dentro, mantendo a funcionalidade. No gabinete da secretária Rejane Ewald, reproduções de obras de Monet e Rembrandt, réplicas que mencionam crianças e um certo ar “cult” de uma secretária que na infância, brincava no mesmo local, prédio e ambiente. “Quando eu olho para as paredes eu vejo as cortinas daquele tempo.” Em 1958, Rejane jamais sonharia que 54 anos depois, entraria ali como “comandante” da fragata da Educação.
No outro lado da rua, em frente, o prédio 342 é tão histórico quanto o da Educação. O que diferente é o comportamento, embora ambos façam parte da cultura da cidade. O prédio da Rodoviária Velha tem frontões decorativos e nas janelinhas dos sótãos, a imaginação leva o pedestre a pensar longe: o que se faz ali em cima?
A rodoviária já não existe mais, mas o nome permanece porque colou na mente dos que vem de fora. “Aqui é o lugar do colono”, informa o barbeiro Hilário Kremer que há 21 anos aprendeu a aparar barba, cabelo e bigode da clientela do interior.
“Quando eu tinha oito anos, vinha comer picolé na rodoviária”, expressa seu “Krema”, que inoculou o sotaque alemão. Hoje é espectador da vida que transcorre na calçada da Borges. Da sua barbearia, observa o movimento do prédio da Educação: equipe de apoio trabalhando infatigavelmente para os alunos do município.
Cada um no seu quadrado
Encostado ao seu ofício, o fluxo do ir e vir da Rodoviária Velha, um lugar de ônibus que virou bar. Mulheres – que talvez pela baixa instrução – ingressaram no comércio da vida, funcionam como chamariz para aposentados. “Muitos homens vem aqui por causa do banheiro, ficou perigoso utilizar os da Praça da Matriz.” Mas é a ala feminina quem dá a atratividade maior. Tudo funciona com um certo “acatamento”. ‘Aqui existe mais respeito do que em muitos bares.”.
Kremer defende o comércio confinado do corpo. “A prostituição fica dentro. Ninguém vê. Muito melhor do que se elas estivessem paradas nas esquinas.” Seu “Krema” é amigo de toda a gente da rua. Das prostitutas, comerciantes e educadores. E muitas vezes, vê passar pela sua porta outra personagem histórico da rua, o diácono Vitório Bohn, que mora numa casa octogenária. “Essa rua merece um carinho especial”, considera ele aprovando a ida da Secretaria da Educação para contrabalançar as calçadas.
No meio da rua - enquanto alunos tocam na flauta e no trompete o Hino Nacional da inauguração do prédio – Bohn sorri diante do contraste. Um prédio faz frente ao outro, mas como diz seu “Krema”, cada um está no seu quadrado.
Todas as histórias convergem
O prédio que abriga a trupe da Educação já foi banco e biblioteca pública. Está no inventário do Patrimônio Cultural da cidade, assim como o da frente, que já foi considerado uma escola isolada do município. Havia uma educadora muito “querida” na cidade, que dava aulas ali. Quando virou rodoviária, o perfil de clientela mudou. Os alunos migraram, os homens permaneceram. A Rodoviária Velha é ponto de referência na rua, pelas histórias reveladas e secretas.
A prefeita Carmen Regina teve um dos momentos de maior emoção ontem, quando quebrou o protocolo e chorou na inauguração. Carmen educou seus filhos na Borges de Medeiros. Definiu a reforma da estrutura como “um sonho ousado” e antes do discurso, fez um gesto simbólico: brincou de orquestrar os meninos da banda da Escola Francisco Oscar Karnal.
A Rua Borges de Medeiros não é uma encruzilhada. Talvez seja uma convergência de vidas e estilos. Numa quadra - a mais popular - há oito prédios históricos, uma escola, casa de música, barberaria, uma rodoviária que nem rodoviária é mais e a Secretaria da Educação. Um diácono bem humorado – Vitório Bohn - todos os dias passa por ali para ir a Igreja. Ele também é musico. Um barbeiro simpático – Hilário Kremer – fica por ali para abrir seu negócio. Não importa a calçada pelas quais as pessoas transitam, a reprodução do Modigliani no gabinete da secretária Rejane dá o tom da educação. Sincera, afável, culta. A fachada da Rodoviária Velha, com letreiro vermelho, garante o inóspito. É o recanto dos aposentados. Sincero, simples, popular. A educação converge por todas as histórias de vida.
quinta-feira, 22 de março de 2012
Pinçando minhas próprias frases
É sempre lamentável dizer adeus,
nem tanto pela despedida
quanto pelas pelancas embaixo do braço...
* Eu nao gosto de gente muito modesta. Se tu for modesto demais, nem demonstre isso pra mim, guarde isso para você. Eu sou inteligente. E não disfarço.Eu gosto de pessoas que sentem realmente como são, nem gosto de falsa modéstia. Se é bom, tem que falar sim. Tem gente que nao quer falar porque têm medo que a gente diga: "ah, tu vai me achar convencido"
Eu faço a contrapopaganda. Sério,,eu quero ver quem é o corajoso que me compra. Eu sou o capitão Nascimento de mim mesma. Eu digo: ah tu quer entrar na minha vida cara? Então pede prá sair. Só para ver a convicção dele em ficar. Não sei se isso tem funcionado. Porque eu TO SEM TROPA DE ELITE. Nao consigo recrutar ninguém
Nunca consegui não culpar uma pessoa que não erra nunca. São pessoas que eu visualizo como corredor de hospital. Sabem as paredes de um hospital, os quartos, os móveis, as cores? São clara, limpas, assépticas. Não tem nada fora do lugar, limpinhas, higiênicas. Não tem nada de ruim, nem de bom também. Pessoas-Hospital não incitam a ira na gente, nem a bondade, não despertam simpatia, simplesmente existem alheia à nossa vontade. A gente dá oi, faz um comentário sem realmente esperar a resposta dela, porque ela não nos conduz a nenhum pensamento. Oxalá conseguissemos simpatizar com o gosto do chuchu, que não tem caloria, mas nao tem gosto nenhum, fica dificil a gente ingerir, né!!!Pessoas asspéticas são tão limpinhas que nem fazem "cacas" na vida. Viver tem que ser perturbador e as pessoas tem que perturbarem a gente de alguma forma. Eu prefiro o gosto da pimenta ao do chuchu
É um saco ter obrigação de ser feliz, seja de qualquer jeito e a qualquer preço. Desde a infância somos assombrados com a possibilidade de não sermos felizes. A própria expectativa de ter que ser feliz de qualquer maneira ferra tudo. Eu também estou condicionada com essa cartilha da felicidade que nos fizeram engolir desde a pré-escola: trabalho, dinheiro, família, filhos e tal. "É tudo tão perfeito, se tudo fosse só isso. Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso"
Sou adepta do imperativo politicamente incorreto: "Na dúvida, ultrapasse". Entre ficar a ver a vida passar ou me lambuzar nela, opto por me besuntar nas vivências. Quero me emporcalhar de vida, lamber os beiços, seja de mel ou de fel
Penso que falo verdades em excesso, nem tudo tem que ser escancarado. Assumo aqui um "mea culpa". Arrependo-me em 89% das vezes dessa verborragia que sai de mim sem hesitação. Talvez porque quero incitar insconscientemente a franqueza alheia. Desejaria mesmo que as pessoas, em qualquer situação fossem sinceras comigo, só para perceber como reagiria a isso. Já lii de mim cobras e lagartos. É um tapa na cara, pelo menos você pode encará-la como um exercício de auto-conhecimento
Mas por que a gente se atrai pelos pegadores? Porque é bacana entrar na dança dos sedutores, eles são muito mais melosos e enfatizam muito mais tuas características legais do que os caras sérios, então a gente se sente especial, tendo a atenção de um homem assediado.
Temos a mania de idealizar os pegadores porque não dá tempo de vermos os defeitos deles. Eles somem antes.
O ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. Meia idade? Tá, sou dramática, pode me chamar de Maria do Bairro, a mexicana.
Eu entorno meu próprio caldo. Eu entro em pane, revés emocional.Pinço minhas urtigas sentimentais, eu sinto. Um palavrão bem afiado brada:: será que tu vai me vencer, sua vida de merda?A vida me unha a cara, me fere na virilha e me salpica sal nas feridas. Ando minada de mim.
Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada: quero ser magra
(eu)
A PÁSCOA NÃO MEXE TANTO COM A MINHA FÉ COMO QUANTO COM MEU CORPO: OVOS DE CHOCOLATE: DEZ SEGUNDOS NA BOCA, DEZ ANOS NO DERRIÉRE!!!
Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)
nem tanto pela despedida
quanto pelas pelancas embaixo do braço...
* Eu nao gosto de gente muito modesta. Se tu for modesto demais, nem demonstre isso pra mim, guarde isso para você. Eu sou inteligente. E não disfarço.Eu gosto de pessoas que sentem realmente como são, nem gosto de falsa modéstia. Se é bom, tem que falar sim. Tem gente que nao quer falar porque têm medo que a gente diga: "ah, tu vai me achar convencido"
Eu faço a contrapopaganda. Sério,,eu quero ver quem é o corajoso que me compra. Eu sou o capitão Nascimento de mim mesma. Eu digo: ah tu quer entrar na minha vida cara? Então pede prá sair. Só para ver a convicção dele em ficar. Não sei se isso tem funcionado. Porque eu TO SEM TROPA DE ELITE. Nao consigo recrutar ninguém
Nunca consegui não culpar uma pessoa que não erra nunca. São pessoas que eu visualizo como corredor de hospital. Sabem as paredes de um hospital, os quartos, os móveis, as cores? São clara, limpas, assépticas. Não tem nada fora do lugar, limpinhas, higiênicas. Não tem nada de ruim, nem de bom também. Pessoas-Hospital não incitam a ira na gente, nem a bondade, não despertam simpatia, simplesmente existem alheia à nossa vontade. A gente dá oi, faz um comentário sem realmente esperar a resposta dela, porque ela não nos conduz a nenhum pensamento. Oxalá conseguissemos simpatizar com o gosto do chuchu, que não tem caloria, mas nao tem gosto nenhum, fica dificil a gente ingerir, né!!!Pessoas asspéticas são tão limpinhas que nem fazem "cacas" na vida. Viver tem que ser perturbador e as pessoas tem que perturbarem a gente de alguma forma. Eu prefiro o gosto da pimenta ao do chuchu
É um saco ter obrigação de ser feliz, seja de qualquer jeito e a qualquer preço. Desde a infância somos assombrados com a possibilidade de não sermos felizes. A própria expectativa de ter que ser feliz de qualquer maneira ferra tudo. Eu também estou condicionada com essa cartilha da felicidade que nos fizeram engolir desde a pré-escola: trabalho, dinheiro, família, filhos e tal. "É tudo tão perfeito, se tudo fosse só isso. Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso"
Sou adepta do imperativo politicamente incorreto: "Na dúvida, ultrapasse". Entre ficar a ver a vida passar ou me lambuzar nela, opto por me besuntar nas vivências. Quero me emporcalhar de vida, lamber os beiços, seja de mel ou de fel
Penso que falo verdades em excesso, nem tudo tem que ser escancarado. Assumo aqui um "mea culpa". Arrependo-me em 89% das vezes dessa verborragia que sai de mim sem hesitação. Talvez porque quero incitar insconscientemente a franqueza alheia. Desejaria mesmo que as pessoas, em qualquer situação fossem sinceras comigo, só para perceber como reagiria a isso. Já lii de mim cobras e lagartos. É um tapa na cara, pelo menos você pode encará-la como um exercício de auto-conhecimento
Mas por que a gente se atrai pelos pegadores? Porque é bacana entrar na dança dos sedutores, eles são muito mais melosos e enfatizam muito mais tuas características legais do que os caras sérios, então a gente se sente especial, tendo a atenção de um homem assediado.
Temos a mania de idealizar os pegadores porque não dá tempo de vermos os defeitos deles. Eles somem antes.
O ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. Meia idade? Tá, sou dramática, pode me chamar de Maria do Bairro, a mexicana.
Eu entorno meu próprio caldo. Eu entro em pane, revés emocional.Pinço minhas urtigas sentimentais, eu sinto. Um palavrão bem afiado brada:: será que tu vai me vencer, sua vida de merda?A vida me unha a cara, me fere na virilha e me salpica sal nas feridas. Ando minada de mim.
Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada: quero ser magra
(eu)
A PÁSCOA NÃO MEXE TANTO COM A MINHA FÉ COMO QUANTO COM MEU CORPO: OVOS DE CHOCOLATE: DEZ SEGUNDOS NA BOCA, DEZ ANOS NO DERRIÉRE!!!
Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)
terça-feira, 13 de março de 2012
Essa guria toma sopa de garfo
Faz 20 anos que seu Oswaldo me conhece:2012 completa duas décadas da primeira vez em que eu o vi. Ele sempre me chamou de “guriazinha”. Até hoje diz assim, mesmo que eu esteja com 40 anos. Ainda quando eu era pirralha que saía de Garelli para fazer as páginas policiais do jornal, ele me falava: “tu toma sopa de garfo. Mas é bom que esse jornal tenha os loucos e os normais para ser equilibrado.” E assim eu fui assegurando meu lugar entre os insanos da redação
.
Eu conheço o seu Oswaldo há três dias:pudera ainda não saber escrever seu sobrenome. É difícil de conhecê-lo porque ele tem tanta história e mesmo que seja transparente como uma tela branca, sempre tem mais coisas para saber. Seu Oswaldo é tela branca, não tabula rasa. Mas eis o motivo da crônica em plena semana do Dia da Mulher: é que seu Oswaldo é meu leitor. Como que isso não vai ser lisonjeiro, gente?Como?Quinta-feira, 9h da manhã. Sou chamada para ir na sala da direção. Repórter que vai na sala de Deus,sobe por três motivos: para cobrir as visitas que são numerosas; para reclamar de uma situação ou para levar uma carraspana. Eu só gosto de ir para fotografar as visitas. Quando não tem forasteiro no jornal e alguém me diz: “Pita, sobe no seu Oswaldo”, fico tensa. God, não fui eu.
Seu Oswaldo tem uma mesa longa do lado da sala principal. Ele se aboleta na cadeira e fala tanto quanto os visitantes. Tem sempre o costume de apresentar os repórteres aos convidados, mas nunca de um jeito formal: Este é fulano, da editorial de Geral. Jamais, fala assim. Seu Oswaldo foge do lugar-comum. Na quinta-feira, me apresentou assim: “esse é um bichinho que incomoda, mas eu a leio sempre, já de olho para saber o que vai falar de mim.” Em dado momento me diz: “Pita, um leitor tu tem e sou eu”. Eu me inflo de orgulho e para agradá-lo, mesmo sem ele saber, gostaria de escrever seu sobrenome certo. Mas não dá: invariavelmente olho no jornal o nomezinho holandês grifado. Aquele w junto com o “e” me deixa confusa e ele se irrita quando vê seu nome errado.
Duas coisas pecaminosas: escrever von Leeuwen equivocadamente e mascar chiclete. Deus é capaz de provocar um armagedon na redação. E ele acha que a gente não sabe que ele fica espiando pela janelinha da redação, observando se alguém está movimentando a boca sem falar. É praxe os veteranos advertirem aos jornalistas novatos: “está mascando chiclete, se o seu Oswaldo te pegar..” e a reprimenda paira no ar.
No ano passado, seu Oswaldo foi presentado com um iPhone. Morri de inveja. Subia e descia com a engenhoca pedindo para os guris viciados em tecnologia como se usava. Fuçou, fuçou e aprendeu. Com 83 anos, ele responde aos e-mails dos seus funcionários. Envia textos que acha interessante e dá uma lavada de modernidade nos octogenários comuns. Dia desses, explicou para um alfaiate mais novo que ele: “nós não damos cópias de fotos porque não fazemos mais revelação de filme. Só passamos por e-mail”. Eu vi que o senhor alfaiate não estava entendendo nada e me marcou sobremaneira o abismo entre os dois homens da mesma época. Um na era digital, outro na da máquina de escrever. E os dois de suma importância para a história do Vale: um fez a imprensa, outro se tornou personagem que saiu na imprensa.
Seu Oswaldo me surpreendeu porque na quinta-feira, pela primeira vez fiquei sabendo que o pai dele queria que ele fosse médico. Jamais quis trilhar a profissão do pai e partiu com 17 anos para fazer sua vida. Parece tudo tão distante para um homem que já fez kraf maga, uma arte marcial israelense com golpes rápidos e que foi ensinada aos militares. E como tudo é cíclico, o kraf maga do seu Oswaldo do século 19 retorna à cena, se popularizando apenas agora entre os brasileiros. Seu Oswaldo já sabia.
Afeito às ciências esotéricas, seu Oswaldo tem um pensamento poderoso. Ele sabe o poder da mente. E sai com cada frase engraçada. No Dia da Mulher, as funcionárias ganharam maquiagem. Era um entra e sai de mulherio na sala de reuniões que o chefe foi vistoriar. Ele disse: “não estou gostando nada disso”. O pessoal se preocupou: “Por que, seu Oswaldo”. Ele lasca: “como a turma meio-termo vai ficar?”A risada prevaleceu. Não cabe na frase preconceito. É senso de humor e de espírito. Eu penso que o seu Oswaldo é nosso Silvio Santos. Ele diz as coisas sem papas na língua e faz a política das portas abertas. Acolhe quem quer que seja na sua sala, vai tomar cafezinho no setor comercial e larga os jornais do dia na redação. Os repórteres sempre reclamam que ele recorta as notícias. Mas Deus, pode. Só não escrevam van Leeuwen com V maiúsculo. Ele periga dar um gole de krav maga em você. Só falta aderir ao Facebook. Ôôôôôô, seu Oswaldo vem aí!
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Eu conheço o seu Oswaldo há três dias:pudera ainda não saber escrever seu sobrenome. É difícil de conhecê-lo porque ele tem tanta história e mesmo que seja transparente como uma tela branca, sempre tem mais coisas para saber. Seu Oswaldo é tela branca, não tabula rasa. Mas eis o motivo da crônica em plena semana do Dia da Mulher: é que seu Oswaldo é meu leitor. Como que isso não vai ser lisonjeiro, gente?Como?Quinta-feira, 9h da manhã. Sou chamada para ir na sala da direção. Repórter que vai na sala de Deus,sobe por três motivos: para cobrir as visitas que são numerosas; para reclamar de uma situação ou para levar uma carraspana. Eu só gosto de ir para fotografar as visitas. Quando não tem forasteiro no jornal e alguém me diz: “Pita, sobe no seu Oswaldo”, fico tensa. God, não fui eu.
Seu Oswaldo tem uma mesa longa do lado da sala principal. Ele se aboleta na cadeira e fala tanto quanto os visitantes. Tem sempre o costume de apresentar os repórteres aos convidados, mas nunca de um jeito formal: Este é fulano, da editorial de Geral. Jamais, fala assim. Seu Oswaldo foge do lugar-comum. Na quinta-feira, me apresentou assim: “esse é um bichinho que incomoda, mas eu a leio sempre, já de olho para saber o que vai falar de mim.” Em dado momento me diz: “Pita, um leitor tu tem e sou eu”. Eu me inflo de orgulho e para agradá-lo, mesmo sem ele saber, gostaria de escrever seu sobrenome certo. Mas não dá: invariavelmente olho no jornal o nomezinho holandês grifado. Aquele w junto com o “e” me deixa confusa e ele se irrita quando vê seu nome errado.
Duas coisas pecaminosas: escrever von Leeuwen equivocadamente e mascar chiclete. Deus é capaz de provocar um armagedon na redação. E ele acha que a gente não sabe que ele fica espiando pela janelinha da redação, observando se alguém está movimentando a boca sem falar. É praxe os veteranos advertirem aos jornalistas novatos: “está mascando chiclete, se o seu Oswaldo te pegar..” e a reprimenda paira no ar.
No ano passado, seu Oswaldo foi presentado com um iPhone. Morri de inveja. Subia e descia com a engenhoca pedindo para os guris viciados em tecnologia como se usava. Fuçou, fuçou e aprendeu. Com 83 anos, ele responde aos e-mails dos seus funcionários. Envia textos que acha interessante e dá uma lavada de modernidade nos octogenários comuns. Dia desses, explicou para um alfaiate mais novo que ele: “nós não damos cópias de fotos porque não fazemos mais revelação de filme. Só passamos por e-mail”. Eu vi que o senhor alfaiate não estava entendendo nada e me marcou sobremaneira o abismo entre os dois homens da mesma época. Um na era digital, outro na da máquina de escrever. E os dois de suma importância para a história do Vale: um fez a imprensa, outro se tornou personagem que saiu na imprensa.
Seu Oswaldo me surpreendeu porque na quinta-feira, pela primeira vez fiquei sabendo que o pai dele queria que ele fosse médico. Jamais quis trilhar a profissão do pai e partiu com 17 anos para fazer sua vida. Parece tudo tão distante para um homem que já fez kraf maga, uma arte marcial israelense com golpes rápidos e que foi ensinada aos militares. E como tudo é cíclico, o kraf maga do seu Oswaldo do século 19 retorna à cena, se popularizando apenas agora entre os brasileiros. Seu Oswaldo já sabia.
Afeito às ciências esotéricas, seu Oswaldo tem um pensamento poderoso. Ele sabe o poder da mente. E sai com cada frase engraçada. No Dia da Mulher, as funcionárias ganharam maquiagem. Era um entra e sai de mulherio na sala de reuniões que o chefe foi vistoriar. Ele disse: “não estou gostando nada disso”. O pessoal se preocupou: “Por que, seu Oswaldo”. Ele lasca: “como a turma meio-termo vai ficar?”A risada prevaleceu. Não cabe na frase preconceito. É senso de humor e de espírito. Eu penso que o seu Oswaldo é nosso Silvio Santos. Ele diz as coisas sem papas na língua e faz a política das portas abertas. Acolhe quem quer que seja na sua sala, vai tomar cafezinho no setor comercial e larga os jornais do dia na redação. Os repórteres sempre reclamam que ele recorta as notícias. Mas Deus, pode. Só não escrevam van Leeuwen com V maiúsculo. Ele periga dar um gole de krav maga em você. Só falta aderir ao Facebook. Ôôôôôô, seu Oswaldo vem aí!
segunda-feira, 5 de março de 2012
Férias:” vada a bordo”
Depois de 20 dias de férias, algumas latas de brigadeiros a mais no meu derriére e a carteira vazia (já estava vazia quando eu entrei em férias), a labuta me chama. Se há algo produtivo fora da vida de viajar no gozo de suas folgas é ficar em casa praticando o “nadismo”. Refiz uma versão do ócio criativo preconizado pelo italiano Domenico Di Masi para o ócio privativo: exprime privação, afinal você não conta com dinheiro suficiente para uma relés viagem ao tão popular litoral norte (Jurerê então, nem sonhar). Mas é também privado porque é sua preguiça privê: individual, e você não tem que fazer nada para ninguém ver. Nada melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar comigo mesma. Quem nasce para Rita Lee continua deitando e rolando mesmo na prisão.
O estresse é a maior epidemia mundial e nessa vida tão alucinada, eu sou uma das mais estouradas e agitadas da redação. Faço par com o colega Rodrigo Nascimento. Os editores precisam controla, eles dizem: “ menos gente, bem menos.”
É que há uma obrigação interna nos dizendo: faça mais, faça mais. E a gente cai nesse ciclo infernal da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Resultado: viramos “bombados” psíquicos movidos a sertralina, fluoxetina, carbamazepina e outras “inas” vendidas nas farmácias. Saúde não se compra com aspirina. Lugar de ser feliz não é supermercado. Mas a fruteira do lado do jornal contribuiu para aumentar dois centímetros nos meus quadris. Sorvete, chocolate, televisão e coca zero sem nenhuma culpa.
Então, nessas últimas semanas, eu fiquei cansada de estar tão descansada. Chegava a trocar de ambiente só para fazer nada em outro espaço.
Assim, depois de cinco horas ininterruptas atirada no sofá da sala, mudava para o quarto e depois para a área, numa pobreza de espírito que dava dó de ver. O gaúcho Marcelo Bohrer vem propagando há alguns anos a filosofia do fazer nada. Montou até um projeto chamado Clube do Nadismo,que faz encontros mensais reunindo pessoas que não fazem nada. Sabe porque ser nadista virou façanha? Porque com tablet, smartphones e computadores é muito difícil passar 24 horas sem acessá-los. A gente se sente fora do mundo sem eles, embora não tenha sido esse o meu caso nessas férias. Acessei tudo, li, e ainda sobrou tempo para a preguiça e para aprender alguma coisa diferente todo o dia. Esse, aliás é um esforço que faço há tempo: aprender algo novo a cada 24 horas. Não é uma tarefa hercúlea. Pode ser uma palavra, uma dica, um livro, um nome. Pode ser até um palavrão. “Vada a bordo,cazzo”
Nestas férias, eu aprendi a voltar a infância. Passar um período com um bebê de dois anos te resgata o tempo perdido. Pedro, meu sobrinho, foi o benfeitor. Me atualizei com músicas e tendências: diga sem pensar quais são os nomes dos cinco backyardigans? Ah não sabe, na certa você está ainda no tempo dos Teletubbies. Vou te dar a real: os “backys” são muito mais legais. E eu sou a Uniqua, porque o Pedro é o Tayrone. Você está boiando? Ah, larga essa pasta de executivo em cima da mesa e volte ao prefácio de sua vida: infância. Ainda dá tempo: São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração. “Vada a bordo das férias, Cazzo”
******
Se liga no Domenico di Masi
Para ser feliz no trabalho, é necessário transformar o trabalho em ócio criativo: isto é um mix de trabalho (para produzir riqueza), estudo (para produzir conhecimento)e jogo (para produzir alegria)
O estresse é a maior epidemia mundial e nessa vida tão alucinada, eu sou uma das mais estouradas e agitadas da redação. Faço par com o colega Rodrigo Nascimento. Os editores precisam controla, eles dizem: “ menos gente, bem menos.”
É que há uma obrigação interna nos dizendo: faça mais, faça mais. E a gente cai nesse ciclo infernal da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Resultado: viramos “bombados” psíquicos movidos a sertralina, fluoxetina, carbamazepina e outras “inas” vendidas nas farmácias. Saúde não se compra com aspirina. Lugar de ser feliz não é supermercado. Mas a fruteira do lado do jornal contribuiu para aumentar dois centímetros nos meus quadris. Sorvete, chocolate, televisão e coca zero sem nenhuma culpa.
Então, nessas últimas semanas, eu fiquei cansada de estar tão descansada. Chegava a trocar de ambiente só para fazer nada em outro espaço.
Assim, depois de cinco horas ininterruptas atirada no sofá da sala, mudava para o quarto e depois para a área, numa pobreza de espírito que dava dó de ver. O gaúcho Marcelo Bohrer vem propagando há alguns anos a filosofia do fazer nada. Montou até um projeto chamado Clube do Nadismo,que faz encontros mensais reunindo pessoas que não fazem nada. Sabe porque ser nadista virou façanha? Porque com tablet, smartphones e computadores é muito difícil passar 24 horas sem acessá-los. A gente se sente fora do mundo sem eles, embora não tenha sido esse o meu caso nessas férias. Acessei tudo, li, e ainda sobrou tempo para a preguiça e para aprender alguma coisa diferente todo o dia. Esse, aliás é um esforço que faço há tempo: aprender algo novo a cada 24 horas. Não é uma tarefa hercúlea. Pode ser uma palavra, uma dica, um livro, um nome. Pode ser até um palavrão. “Vada a bordo,cazzo”
Nestas férias, eu aprendi a voltar a infância. Passar um período com um bebê de dois anos te resgata o tempo perdido. Pedro, meu sobrinho, foi o benfeitor. Me atualizei com músicas e tendências: diga sem pensar quais são os nomes dos cinco backyardigans? Ah não sabe, na certa você está ainda no tempo dos Teletubbies. Vou te dar a real: os “backys” são muito mais legais. E eu sou a Uniqua, porque o Pedro é o Tayrone. Você está boiando? Ah, larga essa pasta de executivo em cima da mesa e volte ao prefácio de sua vida: infância. Ainda dá tempo: São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração. “Vada a bordo das férias, Cazzo”
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Se liga no Domenico di Masi
Para ser feliz no trabalho, é necessário transformar o trabalho em ócio criativo: isto é um mix de trabalho (para produzir riqueza), estudo (para produzir conhecimento)e jogo (para produzir alegria)