domingo, 29 de novembro de 2009

Pilotando a vida

Eu adoro metáforas. Creio que a vida pode ser sorvida de forma prazeirosa como um sorvete de chocolate ou então ser cozinhada em banho maria, em fogo brando, em templo nublado para aqueles que esperam uma decisão. Eu não sei qual a forma certa para degustar a vida, talvez ela possa ser posta na mesa e se reverter em um lauto banquete. Mas desconfio de quem pega leve no tempero. Eu não tenho mão para cozinhar. Eu nem ao menos sei onde se acende a boca maior do fogão. Eu admiro uma mulher de forno e fogão, que sabe entornar o óleo na medida exata da panela. Me satisfaz mais quem sabe azeitar a vida e pilotar receitas não híbridas, manejando os ingredientes tanto doces quanto amargos, estalando a língua diante dos contatos mais saborosos mas também desabridos. Mulheres apetitosas são as que petiscam a vida, tanto em época de farta colheita quanto no momento em que o período amargo sova o pão. São as que fazem happy hour em cada minuto diante da existência, porque sabem que podem e crêem na sua mão para descortinar sempre um novo horizonte.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Me quero de volta, eu pago o resgate!

Estou há quatro dias trabalhando na redação do jornal O Informativo. Pareço uma foca, uma novata que vê o recinto com olhos não domesticados. Como se fosse a primeira vez que trabalhasse ali (mas não é, atuei no local por 15 anos, conheço o mofo das paredes e os velhos ramais telefônicos). É interessante esse aspecto de retornar a um local que você precisa se ambientar novamente, mas que já lhe é velho conhecido. Não é uma sensação de "déja vu". É diferente. Sei que vou me readequar, mas o que "tá pegando" em mim é a percepção de eu não ser mais eu no ambiente de trabalho. A Pita antiga era irrequieta, com a mente encharcada de idéias e parecia uma ventania ao passar pela redação. Sem titubear, ia em busca das matérias mais impactantes ou as quais ela considerava boas para o público ler. De um jeito um tanto ensandecido tirava fotos, muitas das quais pitorescas, como o seu jeito pitônico de ser. Um dia, um colega lhe disse: "Pita, você é uma história em quadrinhos". Por muito tempo a Pita aqui ficou pensando em suas particularidades e dizia querer ser uma pessoa normal, sem rompantes, nem impulsos nem exageros, que na minha ótica, eram considerados "crimes" em ambientes sociais. Esforcei-me tanto que pareço ter conseguido. Agora, consigo - pelo menos profissionalmente - agir com bom senso, não subo em cima das mesas mas também não vibro com qualquer matéria. Aquela adrenalina que me movia o tempo todo parece ter arrefecido. Eu tanto queria ser "normal" que me surpreendo ante minha própria insatisfação contra essa nova Pita, mais contida que se incorpora em mim. Oh, God!!! Eu quero voltar ao meu "pique" que nada tem de normal, me extravasar todos os dias com minhas ideias, mesmo que sejam esdrúxulas. Voltar a ser chamada de "louquinha", mesmo que na hora eu não goste, porque se esse é o preço que eu tenho de pagar para andar de mãos dadas com a minha criatividade, produtividade e prazer pelo trabalho...então eu topo. Me quero de volta, eu pago o resgate.

domingo, 22 de novembro de 2009

Multidão de gente sós


"Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas"

Esse Mário Quintana dizia em breves palavras o que a maioria das pessoas tergiversa em rodas de amigos. Eu curtia mais essas reuniões sociais, hoje quando vou a algumas delas, tento "apreender" a pessoa. Ver se ela realmente está satisfeita, se seu sorriso é de fato genuíno ou se tem um gesto contrafeito. Eu acho legal observar a linguagem não-verbal das pessoas. E onde minha curiosidade é mais incitada é na rodoviária em Porto Alegre, para mim, destes pequenos pagos, é a maior que já conheci. Gente em abundância, adoro olhá-las correndo passando com suas malas, ou observar a garota descendo do coletivo para abraçar o namorado que está a espera. Tem pessoas apreensivas aguardando alguém. O pessoal que trabalha nas lanchonetes com movimentos rápidos para atender a toda a demanda e os seguranças que ficam estaqueados nos pilares, prontos para abater qualquer arruaceiro. Tanta gente e ao mesmo tempo estou tão só comigo mesma. Uma frase de Sartre não me sai da cabeça. Ela é verídica: "O homem está só em sua solidão visceral".

sábado, 21 de novembro de 2009

Eu sou o que não vem à tona


O que está no meu inconsciente que eu não consigo trazer à tona? Eu penso, tento escrutinar, perscrutar meus cantos mais escondidinhos, mas mesmo assim fato submersos permanecem cobertos pela névoa da psique. E é tão interessante saber que esse inconsciente faz parte de mim e reflete nas minhas atitudes que eu acho isso fascinante. Mas eu sou o que eu percebo ou será que eu sou o que ainda nem percebo em mim? Eu sou os dois!!! A polarização está em mim. E quando esse eu oculto virá a deriva? Para o meu conhecimento, eu sou só a ponta do iceberg. Ou melhor, todos nós somos. Existe uma montanha do Himalaia escondida em cada um de nós.

***

Eu nunca li muito Jung mas acho que ele escreve bem. Em um trecho de "O Homem e seus Sìmbolos" ele diz que a maldição do homem moderno é a sua divisão de personalidades. Ele ta falando do consciente e do inconsciente, o qual nunca nos damos conta. Jung diz que há aspectos inconscientes mesmo na nossa percepção da realidade. Todas as nossas experiências contém um número indefinido de fatores desconhecidos. E os acontecimentos que não tomamos consciência foram absorvidos sem nosso conhecimento consciente. E só vamos percebê-los em algum momento de intuição. Mas apesar de ignorarmos de início, os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento, o qual pode aparecer em forma de sonho. Entenderam??? Bem, é complicadinho, mas vale a leitura e a reflexão.

Ternura masculina

Eu gosto de homem que chora, de macho que não reluta em demonstrar sua sensibilidade e mesmo assim ser autossuficiente. Não é porque diz "eu te amo" que ele é frouxo. Na verdade, precisa ser muito másculo, porque nessa sociedade que ainda traz padrões antigos vigentes, o homem é o varão e provedor oficial.
Ser sempre seguro, ter a idéia de prover a família, estar inabalável as intempéries da vida, da alma e do coração era palavra de ordem no universo masculino.
Mas eis que com as mulheres assumindo funções no mercado de trabalho e ajudando a suprir as necessidades familiares, os homens escondem cada vez menos suas emoções. E tanto Pepeu Gomes cantava que enfim tem dado certo: ser um homem femino , nao fere o meu lado masculino. As mulheres gritam "holas" e "vivas" para esses novos toureiros, que são na verdade os neossexuais:É duro, ousado, admirado, mas é sensível. É racional, mas é emocional. É poderoso mas é honesto. Resiste ao choro, mas chora quando é preciso. Entendam-nos rapazes. mulheres querem homens másculos sem deixarem de ser sensiveis ou vice-versa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O repórter sem rosto

Esta é uma sexta-feira, 20 de novembro, uma noite em que em um clube de Encantado conheci a marcante figura de Giovani Grizotti, na verdade a figura não é marcante, mas sim o nome. Grizotti, o repórter sem rosto, que devido a repercussão de suas reportagens investigativas se transformou em uma pessoa antológica no jornalismo gaúcho. Engraçado foi antes de a palestra começar. Como eu, nem a Josiane Rotta e nem o Emilio Rotta (casal de repórteres) não sabíamos como ele era, ficávamos conjecturando: "Acredito que ele seja gordinho e tenha 45 anos. Pode ser esse que está passando agora", diz o Emilio.
"Acho que ele é magro e reservado e tem jeito de repórter", crê a Josi. Ao ser anunciado o nome, percebemos que era o cara que estava a um bom tempo próximo a nós, de camisa amarela. Tem 36 anos, nasceu em Barros Cassal e ganhou 40 prêmios, dois Esso.
Ouvir Grizotti falar reaquece a paixão pelo jornalismo. Percebe-lo narrando suas aventuras e mesmo desventuras, sinto a vontade de informar correndo nas veias, mas nao qualquer informação, algo marcante que todo repórter almeja. De certa forma eis a vaidade jornalística. Ver o nome valorizado, fazer grandes matérias descobrir "bigs" maracutaias e assim ajudar a sociedade. Pena que não deu para tirar uma foto com Grizotti. Ele pediu que não fossem feitos retratos nem filmagens para preservar sua imagem. Mas olha, ele deve ter 1,75m, tem uma barriguinha e aparenta ter um pouco mais de 36 anos, expressa-se bem e com simplicidade. È gaudério e está engajado em propagar a tradição gaúcha, além das maracutaias dos políticos e de outras categorias. E diz que em seu "modus operandi" é preciso ser mais ator do que jornalista, porque ele precisa se passar por um personagem para comprovar a denúncia. Prefere fazer as coisas sozinho e tem dois celulares. O número do celular do trabalho ele troca a cada 15 dias.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Platéia e Potência


Não necessariamente somos atores, mas precisamos de platéia. Nao necessariamente queremos aplauso mas precisamos de aprovaçao: dos pais, amigos, amores. Precisamos sermos vistos. O horror de uma vida inobservada, eis um dos medos fundamentais do ser humano. Viver sem com que alguem escrutine nossa vida, como se fossemos a cor da água transparente, mas que ninguem quer beber porque ninguem enxerga. Estarmos invisiveis perante a sociedade é nosso medo eterno. É pelos pequenos prazeres que o homem suporta sua existência. E para ele se sentir vivo, precisa sentir-se olhado e até admirado. Essa é uma vontade que existe sempre, é contínua. É uma vontade carente, pois não cessa nunca. É Nietzche que dizia que o homem tem uma vontade carente e por isso ele deseja mais poder. Ter o poder para ter maior prazer e conquistar a felicidade. Esta é a vontade de potência.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dor de cotovelo, um santo remédio



Você ainda vai ter uma. Se não passou por ela, então não atingiu a maioridade. Não entrou realmente para o mundo dos humanos. Eu te digo, a experiência amorosa dos outros te diz: dor de cotovelo é inevitável. Não tem graça você amar e ser bem-amado até o fim da vida pela primeira pessoa que você abriu seu coração. É preciso ter um pouco de transtorno, de dor, de aflição. É preciso se matar soluçando no travesseiro, querer se esconder debaixo de um buraco, se remoer de amor. É necssário se lamentar com os amigos, pedir conselhos, não saber o que fazer e até mesmo se rebaixar para pedir para a pessoa voltar. Isso é viver. É ruim na hora. Na verdade é terrível, mas depois passa. Um ano após, quando a ferida estive cicatrizada, você vai reviver a experiência dolorosa e relembrar não da ferida, mas das sensações legais que a experiência de proporcionou. Vai ser até mais humano. E por ter vivência em dores de amor, vai cuidar para não brincar com os sentimentos de ninguém. Dizem que a dor é didática, ensina a viver. Eu sempre contestei esse tipo de afirmação porque acredito que todos temos nosso erros recorrentes, aqueles nos quais a gente cai sempre e não aprende. Mas nesse caso, sim, aprende-se com dores românticas. Elas podem ser o combustível para que você melhore, faça melhor da próxima vez. Talvez com mais carinho, tato e sensibilidade. Sim, porque as dores nos deixam mais sensível e por conseqüência, cuidaremos melhor do coração do outro. Dor de cotovelo. Você ainda vai passar por ela. Ei. Caaaaalma. Ela passa.!!

Insatisfação

Embora eu seja um ser humano tão e muito vazia de altruísmo, me pego pensando no meu imenso egoísmo e como meu umbigo centraliza todas as atenções, eu gosto de ler sobre budismo. Ta, tá, tá, eu sei que ler por si são não diz nada, a prática é tudo. Talvez eu leia porque em uma próxima encarnação ou até mais tarde, eu consiga realmente praticar os preceitos dessa doutrina que eu acho fantástica, porque ela prega simplesmente a ética que umas pessoas devem ter para com as outras. Também ouvi dizer que quando o discipulo está pronto o mestre aparece. Fico olhando para os lados, perscrutando pelo meu caminho para ver se encontro algum irmão do Dharma me ensinar algo que seja salutar. Mas nao encontro. Talvez eu nao esteja pronta, talvez não,,eu tenho tanta reforma interior a fazer em mim que tenho certeza não estar pronta. Mas seguidamente me pego pensando na insatisfação, na impermanência das coisas e no vazio de tudo. O mundo é um mundo de sofrimento e nao há felicidade que contradiga isso.
" Sofremos quando nascemos e no final da vida, na morte, também sofremos e entre os dois está a doença e o envelhecimento. Não importa o quanto você seja rico ou com um corpo saudável, sofrerá em ambas as circunstâncias."Mas aceitar o sofrimento e administra-lo da melhor maneira possivel faz parte da filosofia budista. A insatisfação faz parte do sofrimento. Existe sempre uma avidez por querer mais dinheiro, mais poder, mais roupa, mais móveis bonitos, querer trocar para um namorado mais bonito, galgar mais posições na empresa, desfrutar do carro do ano. Pense sobre isso: reduzindo as expectativas, você terá maior contentamento. Veja o exemplo: mesmo uma pessoa rica que pode possuir tudo na terra, vai querer um dia, ir para um centro turístico na lua. Mas mesmo a quantidade do que se pode possuir e limitada. E melhor acostumar-se cedo para estar sempre satisfeito.

sábado, 14 de novembro de 2009

Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Felicidade está perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um "e depois" após cada felicidade. Uma saudade antecipada na hora de cada encontro. ( Arthur da Tàvola)


Perto do selvagem coração da vida, longe da razão que aplaina o mistério, perto da intuição de assombros e sobressaltos, longe das definições que explicam o mundo (Clarice Lispector)

Depois do final da palavra, começa o uivo eterno (CL)

Diva e doida


Como um louvor nada santificado nas orações mas desapropriado para damas, ensandecida que sou, ainda assim sei ser diva sem ser divina. Apenas mulher real. Sou efemera. Porque meus pensamentos vêm e vão e não repousam no meu volátil querer. Imagens etéreas habitam cenas que enfeitiçam meu coração. Sou densa porque não consigo me esgueirar dos meus pontos obscuros que me cercam feito uma miríade de espelhos que refletem meu eu e meus nós internos. Eu sou diva porque tenho em mim a consciência do meu úmido desejo e da minha ávida insensatez que quer sugar lábios túrgidos. Eu sou doidivanas porque sigo auscultando o caminho do coração, ora pedregoso e situado rente a espinhos oníricos, mas que espetam na alma. Eu sou doida porque estou convencida que nada pode ser edificado sem um pouco de loucura e ademais, a cautela encarcera. Eu sou controversa porque me ramifico em mil sujeitos que se bifurcam como as arterias sanguíneas irrigando desejos do coração.

Instantes


Sentimentos nascem e passam, momentos vem e vão, como uma onda que emerge e depois rebenta na praia. Há beleza no alvorecer e depois a mesma beleza se repete no lusco fusco, mas todos os instantes são efemeros e mesmo a beleza dura o tempo de uma estrela cadente, não mais que isso. Os instantes sempre encerram uma torrente de sensações as quais estão aderidas aquele momento próprio e dele não saem. É por isso que as fotos existem. Elas são a forma concreta de tentar reter os instantes. Um clique para deixar gravado um grupo de amizades. Eis aqui meus ex-colegas que agora figuram como amigos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sonhos que espicham

Vejo a minha menina de 10 anos na sua tenra idade. Tem os sonhos curtos e consequentemente fácil de alcançá-los. Marianna não tem a intenção de comprar uma big casa confortável e nem de adquirir o carro do ano. Nem roupa de marca lhe interessa. Por sorte tenho uma filha despojada. Mas ela exulta e enaltece a viagem das quartas séries para a região das Missões. Fica dias planejando a viagem e quando chega a hora se regozija com a aventura. Mas esse é só um preâmbulo para falar dos sonhos de nós, adultos. Acalentamos na alma uma série de viagens, todas para a Europa. Um cruzeiro marítimo, melhor ainda. Quantas vezes cultivamos o sonho - e este sim, mais prático - de trocarmos de emprego. Perseguimos com interesse e secretamente o desejo contínuo ou, noutras horas intermitente, de ganhar melhor ou galgar uma função mais remunerada. As vezes queremos poder, isso vai de cada pessoa. O certo é que nossos sonhos espicham à medida em que a gente cresce. Eu estou voltando para um sonho antigo. Na juventude aquiri o fascinio por trabalhar em teve. Meu sonho não se realizou e por isso adormeceu. Mas agora sentarei na redação de um outro jornal. Vou mudar de colegas e escrever textos e histórias de vidas olhando outras paredes e horizontes.
Nesse novo ciclo, estou incumbida de trabalhar na teve. E eis aqui o meu sonho tão pontual que tive de desencaixotar de onde ele estava dormitando. Me veio gratuitamente, como uma bonificação pelo trabalho no jornal que irei exercer. Os holofotes sempre tiveram um grande poder de persuasão, mas a medida que parto para essa etapa vem o sentimento tão humano da insegurança. E eu sou tão humana quanto insegura. Os meus medos exalam pelos poros, gotejam como o suor que brota da testa porque deixo minha zona de conforto relativamente estável para um lugar que não me é desconhecido, mas se descortina como um desafio. Se eu pensar nos meus temores, jamais arriscarei nada. Mas eu penso. Contudo, me permito avançar no comando do meu destino. Tento dar um delete nos meus temores. Escrever nesse blog é uma forma de dirimir meu sentimento de inquietação. É hora de ir adiante e fazer com que meu sonho se encaixe na minha real capacidade de produção.