O que move a roda da vida? Esta é uma indagação que costumo fazer aos entrevistados do Jogo Aberto, uma entrevista ping pong, mantida no caderno Mais Atual. Presto atenção especialmente no que respondem a esta pergunta e tenho tido um infindável número de respostas diferentes. Grande parte diz que o amor move a roda da vida, outros, a fé e alguns, o sonho e os objetivos. Sempre fico tentando antever se alguém vai responder da mesma forma que eu penso. E só um entrevistado fez isso, ao declarar que a sensação de importância move a roda da vida. Foi um deleite, entao ele pensa igual a mim. Bingo. Sempre acreditei nisso, que a vaidade é a engrenagem que gira o moinho. É assim: para tudo e para todos, e para nós mesmos, precisamos sentir que somos valorizados e perceber que somos importantes para alguém, algum grupo social ou de repente, para uma população maior ou então para o nucleo familiar, diminuto que seja. Precisamos perceber isso e essa sensação de importância é importante, mas também é uma vaidade, pensem a respeito e vejam se não concordam comigo. Se não entenderem a proposição, pensem de novo e chegarão a essa conclusão.
Os magnatas trabalham para conseguir dinheiro, mas no fundo, não é o "vil metal" que os incita a trabalhar. Existe uma motivação escondida nos porões da mente: o dinheiro os faz galgarem os degraus da importância social.
As boazudas conquistam fama e adoram adornar as formas na teve, você acha mesmo que é pelo dinheiro que ganham? Não, pela sensação de importância que a beleza traduz.
Os políticos chegam a ser políticos só pelo dinheiro? Não, por mais que a corrupção nos faça pensar assim. Eles querem poder? E poder para que? Para saberem que influenciam populações. Poder, em ultima instância, é vaidade.
Vamos descer até o populacho. Os normais, sem grandes poderes. Nós. Nós mesmos, que procriamos. Nós queremos ter filhos por que? Para amarmos, sim e para podermos perpetuar o sobrenome. Não é isso uma vaidade? Querer levar adiante a semente que continua com o nosso DNA?
Nós amamos também para sermos amados. Por que? Para ver refletido no amor do outro o nosso próprio valor como seres humanos. Entende? Nós amamos por vaidade, a não ser os budistas compassivos que amam por compaixão, mas isso é outra história. Poucos de nós somos tão lúcidos a ponto de perceber tudo isso - e não estou dizendo que com isso eu seja lúcida. Dde lúcida eu nao tenho nem minha escrita. Mas eu amo pensar na pergunta: o que move a roda da vida e associá-la ao a frase do Eclesiaste que diz: "Tudo é vaidade e correr atrás do vento", frase dita pelo rei Salomão, porque apesar de ter palácios e bens em abundância, ele percebeu que tudo que ele fez foi impulsionado pela vaidade e "um esforço para alcançar o vento".
----
Vaidade - Vanitas Vanitatis
Do latim Vanitate que quer dizer passageiro, de pouca duração. Tudo é vento que passa. Inclusive nós. O vento passa e nos leva nos dentes de sua engrenagem. Não tem nada que não passe debaixo do sol.